Tem dúvidas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Hoje, nós te ajudamos a solucioná-las.
Fábio Cordeiro, presidente da ONDA Autismos, respondeu algumas questões importantes sobre essa condição durante o 5º Seminário Nacional AutismoS.
Aqui, você pode conferir algumas delas!
O que é o autismo?
Antes de tudo, é preciso entender que o autismo é uma condição de existência. Ou seja, está relacionado à maneira que uma pessoa existe no mundo, como ela percebe o mundo, como ela sente o mundo, como ela contribui com o mundo. Isso não é um aspecto negativo.
Além disso, o autismo também acarreta em um transtorno: o transtorno do espectro autista (TEA), que se dá muitas vezes não só por questões inerentes da condição, mas também pela falta de entendimento da sociedade e falta de compreensão.
Esse transtorno se dá por dificuldades na comunicação e na interação social e por comportamentos repetitivos e interesses restritos.
Como funcionam os sinais do TEA?
É importante entender que isso não é algo que vai para o campo da vontade ou da preferência. A pessoa autista tem dificuldade na comunicação, mas não é porque ela não gosta de se comunicar ou que ela não gosta de interagir.
Isso faz parte de um funcionamento cerebral que, muitas vezes, a pessoa apresenta grande dificuldade de se expressar enquanto as outras pessoas também têm dificuldade para interagir com uma pessoa autista.
Nos comportamentos repetitivos é a mesma coisa. Não significa que a pessoa gosta de se balançar ou fazer flapping com as mãos. Na verdade, ela faz isso como forma de comunicar uma alegria, uma tristeza, uma angústia, uma felicidade e também para tentar se autorregular.
Os comportamentos repetitivos também têm relação com a manutenção de rotinas e com uma previsibilidade que, de novo, faz parte do funcionamento cerebral. Não é que a pessoa simplesmente prefere fazer as coisas da mesma maneira, aquela é a forma com que ela se sente mais confortável dentro do seu neurodesenvolvimento.
Os interesses restritos também vem da condição dessas pessoas estarem no mundo. Conseguir dar atenção apenas àquilo que a interessa, de forma restrita, faz parte de seu funcionamento.
Esse interesse pode ser prejudicial no ponto que restringem que a pessoa expanda o seu aprendizado em outros interesses e podem ser benéficos no sentido que você pode usar esses próprios interesses para ensinar a pessoa, para expandir, e também, se a pessoa for trabalhar dentro desse campo do interesse específico, provavelmente ela vai se sair muito bem no seu trabalho.
O autismo é uma doença?
A gente entende o autismo como uma condição de existência. Logo, ele não é uma doença que precisa ser curada.
Entender o autismo como uma condição diz o seguinte: a pessoa tem sim dificuldades, não vamos negar isso. Como qualquer condição de existência, nós temos coisas boas e coisas ruins e a pessoa merece ser auxiliada nessas suas dificuldades, assim como a sociedade tem que conhecer um pouco mais para saber como incluir essas pessoas.
Não é uma doença, não tem cura e nenhum tratamento pode prometer que essa pessoa deixe de ser autista, já que ela nasce daquela maneira e aquela maneira vai ser a que ela existe no mundo.
Existe tratamento para Autismo?
Sim. Não é porque o autismo não é uma doença que nós não podemos auxiliar as pessoas em suas dificuldades. Existem muitos tratamentos que podem maximizar as habilidades das pessoas, minimizar as dificuldades e fazer com que a pessoa tenha mais autonomia e mais qualidade de vida.
O tratamento do autismo tem este intuito: de trazer um bem-estar para o indivíduo, não fazer com que ele deixe de ser autista. Qualquer tratamento milagroso que diz que a pessoa vai deixar de ser autista, é melhor fugir! Esse é um tratamento enganoso.
Existem diferentes graus de Autismo?
Não. Às vezes as pessoas falam em grau de autismo como nível 1, 2 ou 3, ou até nível leve, moderado e severo, mas isso é uma confusão. As pessoas ou são autistas ou não são autistas.
Esses níveis que às vezes as pessoas confundem são definidos, na verdade, como níveis de suporte.
Nós temos autistas que precisam de pouco suporte para as atividades diárias, autistas que precisam de um pouquinho mais de suporte e autistas que vão precisar de muito suporte. Popularmente, isso ficou conhecido como autismo leve, moderado e severo. Porém, essa nomenclatura não é benéfica porque não existe um autismo levinho ou que não traz muitas dificuldades. Subestimar tanto as dificuldades do autista chamado “leve”, quanto as potencialidades do autista chamado “severo” é algo ruim para o desenvolvimento da pessoa.
O ideal é evitar falar em graus e níveis. Afinal, os níveis se dão pelo suporte que a pessoa necessita e até mesmo esse suporte é muito subjetivo.
Falar que um autista “nível 3” precisa de muito suporte é verdade. Às vezes ele precisa de muito suporte para atividades da vida diária. Mas, às vezes um autista “nível 1”, que está definido como pouco suporte, também pode precisar de muito suporte em questões psicológicas, por exemplo.
Não podemos subestimar quais suportes as pessoas necessitam, querendo categorizar em níveis apenas. Não é tão simples. O importante, além desses níveis, é que as pessoas tenham suas demandas supridas.
Qualquer pessoa que tenha uma demanda e que tenha o cuidado e o acesso para que essa demanda seja suprida, vai ser uma pessoa com chance de sucesso e de alcançar o máximo do seu potencial. Isso é importante para a gente entender.
Por que o diagnóstico precoce é importante?
Quanto antes você tiver o diagnóstico, melhor. Assim, você consegue abordar essas dificuldades com maior precocidade e ainda aproveita a fase de maior neuroplasticidade do indivíduo, quando o cérebro está mais propício para adquirir novas habilidades.
Então, quanto mais precoce o diagnóstico e a abordagem, mais chances temos de um desenvolvimento em que a pessoa tem mais qualidade de vida.
Isso quer dizer que se a pessoa for diagnosticada mais tarde não tem chance de tratamento?
Não. A neuroplasticidade continua pela vida toda e sempre há chances de melhorar a qualidade de vida.